Deixe o Tapajós viver
O Tapajós, um dos últimos grandes rios da Amazônia a correr livremente, é o mais recente alvo do governo para a instalação de megaprojetos de hidrelétricas – além de hidrovias e outros projetos de infraestrutura. São 43 grandes hidrelétricas (com mais de 30 MW de capacidade instalada) planejadas para serem construídas na bacia do Tapajós. A maior delas, São Luiz do Tapajós, é apontada como prioritária.
O rio Tapajós começa no Estado do Mato Grosso e corre na direção do oeste do Pará por 800 quilômetros até desaguar no rio Amazonas. Nesse longo trajeto, ele influencia a sobrevivência de milhares de habitantes ribeirinhos e indígenas, além de ditar o ritmo de vida dos moradores das cidades banhadas por ele, como Itaituba e Santarém.
O rio e seu regime anual de secas e cheias são a principal fonte de recursos para as comunidades. Mais do que isso: é o habitat de uma quantidade inestimável de vida e biodiversidade animal e vegetal, protegidas por um mosaico de dez unidades de conservação e 19 terras indígenas (das quais apenas quatro foram reconhecidas oficialmente). Não é por acaso que o Tapajós é considerado prioritário para o Ministério do Meio Ambiente para a conservação do bioma amazônico.
A hidrelétrica de São Luiz do Tapajós será construída no coração da Amazônia. É preciso questionar a maneira como as decisões de iniciar esses megaprojetos em biomas frágeis como a Amazônia são tomadas sem a participação da sociedade.
Também é fundamental desafiar a maneira como o Brasil está construindo sua matriz de energia, focada em megaprojetos de infraestrutura e nos deixando cada vez mais dependentes da água como principal fator de geração de energia. O Tapajós não é apenas um rio. Ele representa a herança cultural e ambiental de todos os brasileiros. Um paraíso que está sob ameaça.
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